Bob Marley sempre foi visto por muitos como um visionário. Bem antes da chamada globalização mundial, Marley foi capaz de difundir sua música e seus ideais, influenciar gerações de músicos de diferentes estilos e, de fato, colocar a Jamaica no mapa. Agora, numa iniciativa inédita, sua família anuncia a primeira marca global de Cannabis e aposta no nome, na imagem e nas ideias do músico para desbravar um mercado milionário
O nome Bob Marley é naturalmente associado ao reggae, ao movimento rastafári e à maconha. Essa última, tida pelos adeptos do movimento como uma erva sagrada, consumida para auxiliar na meditação, ampliar a criatividade e encorajar reflexões. Enfim, numa ação que se antecipa à legalização da maconha mundialmente, a família Marley acaba de anunciar o lançamento da primeira empresa voltada para a comercialização de maconha e produtos derivados: a Marley Natural.
O acelerador desse processo foi a crescente legalização da maconha em muitos países, especialmente nos EUA, onde, recentemente, mais dois estados – Alaska e Oregon – legalizaram o uso, seguindo o exemplo de Washington e Colorado. A Marley Natural é uma associação da família Marley com uma empresa de fundos de participação chamada Privateer Holdings.
Além de novo, o tema é delicado. O que se sabe é que a família Marley tem tido grande êxito em todos os negócios criados a partir do ídolo jamaicano. Cafés, roupas e equipamentos de áudio são alguns dos exemplos de sucesso (leia mais em De café a vestuário: conheça os Marley empreendedores). Além de matérias-primas de qualidade e todo um cuidado com as marcas, as empresas da família sempre buscam oferecer contrapartidas no campo social, beneficiando especialmente crianças carentes.
Uma das questões levantadas é se o próprio Marley aprovaria o negócio. A filha Cedella acha natural que seu pai seja parte desse assunto. Já sua mãe, Rita, diz que Bob estaria feliz por ver seu sonho – da legalização – se concretizar. De fato, a ação em curso possui forte alinhamento com as ideias de Marley a respeito do tema (ouça acima a faixa “Kaya”, gíria usada na Jamaica para se referir à maconha). Algumas de suas conhecidas frases em defesa da “erva”, como gostava de chamá-la, têm sido amplamente utilizadas na campanha de lançamento da marca.
Trata-se de um negócio milionário. O CEO da Privateer, Brendan Kennedy, estima que a indústria da maconha nos EUA seja algo em torno dos 50 milhões de dólares e que, mundialmente, alcançaria os 150 milhões. Kennedy é um entusiasta do assunto. Acredita na legalização em escala global em um período relativamente curto e, por consequência, no desenvolvimento de grandes empresas capazes de suprir a demanda. Não foi por outra razão que ele, um executivo com MBA em Yale, quis tomar parte na empresa pioneira no ramo. Para Kennedy, esta é “a” oportunidade de sua vida.
Nos EUA, a legalização da maconha tem sido amplamente discutida. Os opositores abordam questões também bastante interessantes. Apontam o risco de fazer da indústria da maconha a nova indústria do tabaco, hoje tão perseguida e regulada. Saem o caubói da Marlboro e as paisagens do deserto americano e entram as montanhas e florestas paradisíacas da Jamaica.
Outro ponto é a sedução dos mais jovens, a exemplo do que aconteceu com a venda do binômio prazer e glamour, associados ao cigarro. Como evitar que o uso recreativo se torne um vício? Alguns acreditam que ao dar a liberdade de consumo a muitos, também se estará permitindo o enriquecimento de um pequeno grupo.
Polêmicas à parte, a Marley Natural entrará em operação em 2015, com uma variada linha de produtos. Desde mudas da planta, óleos e loções, até vaporizadores (tipo cigarro eletrônico). Os itens serão comercializados de forma moderna, com o auxílio da mesma agência que atende New Balance e Starbucks. É aguardar e acreditar que, com a inspiração de Bob Marley e o profissionalismo de sua família o mundo esteja prestes a entrar numa nova era, de consumo legal e consciente.