Quando pensamos em grandes astros da música, às vezes nos perguntamos se eles se encontraram com outros grandes astros e imaginamos como teriam sido esses encontros. O mundo nem sempre foi globalizado como hoje e muitos artistas, apesar de contemporâneos, nunca se cruzaram.
Ao longo da vida, Bob Marley teve alguns encontros bem interessantes e resolvemos contar, aqui, as história de alguns deles. Dois aconteceram em 1975, o primeiro em março, na Jamaica.
Um grupo já famoso na época chamado The Jackson Five foi convidado para abrir o show de Bob and The Wailers, no National Heroes Stadium. Michael Jackson era um adolescente de 16 anos e, embora muito talentoso, não era ainda nem sombra do ídolo pop que viria a ser.
O grupo vivia uma transição. Estavam deixando a gravadora Motown, responsável pelo sucesso de um grande número de artistas negros, nos anos 1960 e 1970. Bob Marley, por outro lado, alcançava sucesso internacional com No Woman No Cry, canção do álbum “The Natty Dread”.
Antes do show, os Jackson Five visitaram Marley em sua casa, em Kingston. Resultado de um mundo menos tecnológico e mais poético, não há registro do show em áudio ou vídeo, apenas fotos.
O segundo encontro deu-se meses depois, na Califórnia. Na época, Bob Marley já pertencia à gravadora Island Records e excursionava pelos EUA. O presidente da Island, Charley Nuccio, ficou sabendo que George Harrison era fã de Marley e convidou-o para visitá-lo no camarim.
Ao saber da notícia, Marley ficou surpreso e disse: “Ras Beatle!” (algo como o príncipe Beatle). Foi uma visita rápida, cerca de 5 minutos, em que ambos demonstraram respeito e admiração mútuos. Apesar de nunca terem tocado juntos, após uma montagem feita com foto da época, circulou durante muito tempo um cartaz de show que teriam feito quando do encontro. Show esse que, infelizmente, nunca ocorreu!
Em 1980, Bob Marley fez sua única visita ao Brasil. A Island Records tinha se tornado um selo da gravadora alemã Ariola, que estava iniciando suas atividades no país. Marley, juntamente com Junior Marvin (guitarrista dos Wailers), Jacob Miller (vocalista do Inner Circle), Chris Blackwell (diretor da Island Records) e sua esposa vieram para a festa de inauguração.
Além de circular pela cidade e visitar a favela da Rocinha, o grupo seguiu para um importante compromisso: uma pelada de futebol. De um lado, Bob Marley, Junior Marvin, Paulo César Caju, Toquinho, Chico Buarque e Jacob Miller e do outro, Alceu Valença, Chicão (músico da banda de Jorge Ben) e mais quatro funcionários da gravadora. Os músicos brasileiros eram contratados da Ariola e Caju, ídolo da Copa de 1970, tinha em Bob Marley um fã.
Bob Marley disse a Paulo César: “Rivelino, Jairzinho, Pelé… o Brasil é o meu time. A Jamaica gosta de futebol por causa do Brasil”. Segundo Caju, Bob, além de canhoto, era habilidoso e bom de bola. Tanto que fez um dos 3 gols da vitória, os outros foram de Chico e Paulo César. A visita foi curta, mais o encontro foi marcante!
Inspirado no samba, que segundo ele era como o reggae (partilhando dos mesmos sentimentos das raízes africanas), Marley compôs na volta para casa a música Could You Be Loved (ouça a faixa abaixo). Repare na introdução da música e vai ouvir, de leve, o som da cuíca. Não é lenda, é verdade!
Stevie Wonder e Bob Marley encontraram-se algumas vezes. A primeira delas foi em 1975, no Wonder Dream Concert, em Kingston, num show beneficente para um instituto para cegos. Esse show ficou também conhecido como Wailers Reunion Show, pois foi a primeira e última vez que os integrantes originais (Bob Marley, Peter Tosh e Bunny Wailer) tocaram juntos, desde 1974. Durante o bis de Stevie, ele chamou Bob Marley ao palco e cantaram juntos I Shot The Sheriff e Superstition.
Quatro anos depois, encontraram-se na Filadélfia, nos EUA. Era a convenção nacional da Black Music Association. Por ser um evento privado e num passado em que as pessoas não portavam celulares com câmera, não há registros gravados. Porém, há quem diga ter sido essa uma das melhores performances de Bob Marley, convidado como embaixador jamaicano do reggae.
O público, composto pela elite da indústria da música, ficou fascinado com seu carisma e sua energia no palco. Quando cantou Get Up Stand Up, na companhia de Stevie Wonder, muitas pessoas atenderam literalmente ao apelo, subindo e dançando sobre mesas e cadeiras. Esse encontro inspirou Stevie a compor Master Blaster (Jammin, do álbum “Hotter Than July”), em homenagem a Marley.
Durante um concerto, em Washington, em 1980, ambos encontraram-se no palco pela última vez. Enquanto Stevie cantava Master Blaster, Marley surgiu do nada e não cantou, apenas falou com o público. Havia amizade e sinergia entre os dois astros. Cogitaram fazer uma turnê juntos, mas isso não chegou a se concretizar.
Em 1980, Bob Marley and The Wailers estavam excursionando pelos EUA, divulgando o disco “Uprising”. O último show seria na Pensilvânia, porém, acabaram encaixando na programação dois shows em Nova Iorque. Na verdade, fariam a abertura de um show do The Commodores (cujo vocalista era Lionel Ritchie).
A carreira internacional de Bob Marley já estava consolidada. Era conhecido em todos os cantos do planeta. Porém, nos EUA, seu público era limitado a jovens brancos e I Shot The Sheriff, por exemplo, era mais identificada com a versão de Eric Clapton. Assim, Marley entendeu que participar de um show de um grupo negro de soul e funk seria uma forma de se aproximar do público afro-americano.
Os organizadores nem se preocuparam em colocar nos tickets o nome da banda de abertura. No Madison Square Garden, a apresentação dos jamaicanos foi diferente do usual. Usaram roupas mais urbanas, evitaram coreografias e levaram sua mensagem, repleta de conotações políticas e religiosas. Muitas pessoas deixaram o local depois da abertura, sinal de que já tinham cumprido seu propósito. Para os que ficaram, a apresentação de um Commodores já numa linha mais comercial e distante de seu projeto inicial foi um tanto decepcionante.
Antes de ir para a Pensilvânia, ainda em Nova Iorque, Bob Marley sentiu-se mal e caiu no Central Park, enquanto corria. Era o primeiro sinal do câncer que daria fim à sua vida, meses depois.