Winston Hubert McIntosh, o lendário Peter Tosh, nasceu no dia 19 de outubro de 1944, em Westmoreland, interior da Jamaica. Filho de Alvera Coke e James McIntosh, desde cedo o garoto já demonstrava profundo interesse pela música, embora suas únicas aulas de música tenham sido algumas lições de piano na 5ª série. Segundo Marlene Brown, sua esposa, Peter teria sido abandonado aos três meses de idade pelos pais, sendo criado pela tia-avó nos primeiros anos de vida. Seu pai tinha muitos filhos com várias mulheres, e Peter só veio a conhecê-lo aos 10 anos. Quando lhe perguntavam algo sobre o pai, ele dizia: “meu pai é um moleque. É só isso o que ele sabe fazer da vida: filhos! Eu nem faço ideia de quantos irmãos eu tenho”.
Em 1956, ele e sua tia mudaram-se para Denham Town, em Kingston, capital da Jamaica. Quando Peter completou 15 anos de idade, sua tia faleceu. Ele então se mudou com um tio para West Road, em Trenchtown, onde conheceu Robert “Nesta” Marley (Bob Marley) e Neville O’Reilly Livingston (Bunny Wailer), parceiros com os quais formaria o Wailin’ Wailers, cujo primeiro sucesso, intitulado “Simmer Down”, veio em 1964.
Depois de trabalharem com Joe Higgs, Clement “Coxsone” Dodd e Lee “Scratch” Perry, os então conhecidos como The Wailers foram apadrinhados por Chris Blackwell, produtor da Island Records, o que viria a resultar em diversas oportunidades, exposições e dois discos clássicos: “Catch a Fire” e “Burnin’”. Até então, o Reggae era exclusivamente jamaicano. O quadro viria a mudar quando os Wailers atingiram prestígio internacional e atravessaram as fronteiras da Jamaica. Mas algumas divergências com a Island fizeram com que a formação original se desintegrasse em 1974. Peter Tosh e Bunny Wailer saíram do grupo, abrindo espaço para Bob Marley, agora líder da banda.
Peter Tosh seguiu seu caminho com a mesma militância de sempre. Militância essa que os políticos viam como uma ameaça ao regime corrupto e que o povo enxergava como a rebeldia de um herói que lutava pelos direitos humanos, pela dignidade e libertação dos africanos. Sua missão era, acima de tudo, despertar a mentalidade de resistência do negro. A mensagem, porém, foi muito além desse ideal e vem, até hoje, ajudando as pessoas a pensar, conquistando admiradores em todo o mundo. Apesar de sua arte não ter atingido as mesmas proporções da música de Bob Marley, ela é indiscutivelmente importante aos apreciadores do Reggae e continua viva e atual.
A carreira de Tosh foi marcada por fases distintas. Ele atingiu o estrelato internacional no final da década de 70, emplacando sucessos nos quatro cantos do mundo. Algumas publicações internacionais estampavam em suas manchetes frases do tipo: “Peter Tosh: o próximo gigante do Reggae?”. Peter veio ao Brasil para encerrar o primeiro festival internacional de Jazz de São Paulo e aproveitou a passagem para gravar uma cena para a novela “Água Viva” nos estúdios da Rede Globo, no Rio de Janeiro. Peter também viveu fases conturbadas, geralmente relacionadas a conflitos com as autoridades jamaicanas e amigos barra-pesadas que frequentemente o procuravam em busca de ajuda financeira.
“Legalize It” (1976), seu primeiro álbum solo, trazia a temática que ele levou até sua morte: a legalização da maconha. Logo depois, montou sua própria banda, a Word, Sound & Power, que contava com músicos de primeira linha, como a dupla Sly Dunbar (bateria) e Robbie Shakespeare (baixo), considerados, à época, a grande revelação do cenário musical jamaicano. Foi com eles que Peter gravou o clássico álbum “Equal Rights” (1977), tido pela crítica como o disco mais bem produzidos de toda a sua carreira.
A música rebelde de Tosh continuava a todo vapor, espalhando-se e conquistando multidões. Um dos que se renderam ao talento do músico jamaicano foi Mick Jagger, o vocalista dos Rolling Stones, que surpreendeu-se com a performance de Peter no One Love Peace Concert e o convidou para gravar pelo selo Rolling Stones Records, de onde saíram dois álbuns: “Bush Doctor” (1978) e “Mystic Man” (1979).
Durante aquele período, Peter contou com a colaboração de Mick Jagger e Keith Richards. Jagger, compartilhando os vocais em “Don’t Look Back” e Richards tocando guitarra em várias músicas. Hits como “Buckingham Palace”, “I’m The Toughest” (uma adaptação para o antigo sucesso de James and Bobby Purify, “I’m Your Puppet”) e o hino “Jah Seh No” também tiveram a colaboração da dupla. Mas nem tudo foram flores na parceria Tosh/Stones. Peter reclamou que seus discos pelo selo foram mal distribuídos e mal divulgados, os piores de sua carreira.
No ano de 1983, a formação da banda Word, Sound & Power sofreu alterações significativas. Músicos como George Fullwood (baixo) e Santa Davis (bateria), entre outros, passariam a integrar o time. Foi com essa formação, e já pela EMI, que Tosh gravou os álbuns “Mama Africa” (1983, disco que trazia sua versão para o clássico “Johnny B. Good”, de Chuck Berry, que viria a tornar-se seu maior sucesso), “Captured Live” (1984) e “No Nuclear War” (1987), o último de sua carreira.
Peter Tosh foi assassinado em 11 de Setembro de 1987. Três pistoleiros, entre eles, Dennis “Leppo” Lobban, um “rudeboy” conhecido de Peter, invadiram a casa de Tosh em busca de dinheiro. Tudo planejado por Leppo. Tosh, que conhecia técnicas de artes marciais, tentou reagir, o que resultou nos primeiros tiros. Peter, a esposa Marlene Brown, o baterista Santa Davis e alguns amigos estavam entre as vítimas do atentado. Nada foi levado da casa e a polícia chegou ao local após o tiroteio.
Peter chegou ao hospital ainda vivo, porém não resistiu aos ferimentos por muito tempo e morreu logo em seguida. Hoje, após quase três décadas de sua morte, vemos que sua música continua sendo lembrada e reverenciada no mundo inteiro. Sua imagem e sua originalidade permanecem intactas. Sua maneira de usar a arte como uma verdadeira arma na luta contra as injustiças e as desigualdades sociais e raciais continua sendo a marca registrada de Peter Tosh. Para os amantes da boa música, resta a convicção de que o talento prodígio de Peter Tosh merece muito mais do que já alcançou.