Já sabemos que entre ficção e realidade há uma longa distância. Falamos, anteriormente, sobre o filme “Jamaica Abaixo de Zero” (“Cool Runnings”), mostrando as semelhanças e diferenças entre a história real e a do cinema. Agora, vamos contar mais sobre os membros do time e suas histórias pessoais.
Devon Harris não conseguiu se classificar para as Olimpíadas de Los Angeles, em 1984. Ele era um corredor de meia distância e, enquanto servia o exército, em 1987, viu um anúncio recrutando candidatos a serem os primeiros bobsledders jamaicanos a participar de uma competição olímpica. Por mais que achasse a ideia absurda, seu sonho de tornar-se um atleta olímpico o motivou e ele entrou para o time.
Após a participação em Calgary, no Canadá, Harris ainda continuou praticando bobsled, paralelamente à sua carreira militar, até 1992. Depois da segunda participação do bobsled jamaicano em Jogos de Inverno nesse mesmo ano, na França, Harris deixou o esporte e também o exército. Em 2008, escreveu um livro infantil e, atualmente, é escritor e palestrante motivacional.
Dudley Stokes foi convidado a participar do time quando era piloto de helicóptero do exército. Seu diferencial, adquirido pela função que exercia, era a coordenação entre os olhos e as mãos, muito importante, também, para pilotar um bobsled. Apesar de, até 1987, Dudley nunca ter visto um bobsled, em poucos meses já participava de uma competição olímpica. Ele também competiu nos Jogos de Inverno de 1992, 1994 e 1998 e hoje administra a Federação Jamaicana de Bobsled.
Michael White era operador de rádio do exército e foi um dos primeiros a ser chamado a participar do time. Ele participou dos Jogos de 1992, na França, e mudou-se posteriormente para Nova Iorque, onde vive até hoje, trabalhando numa grande rede varejista.
Caswell Allen era engenheiro ferroviário. Ele entrou para o time jamaicano, mas não chegou a competir. Quando estavam treinando, no Canadá, Allen caiu e ficou impossibilitado de participar. Às pressas, o irmão de Dudley Stokes, Chris Stokes, o substituiu. Chris estava no Canadá apenas para assistir o irmão; ele estudava nos EUA e também praticava atletismo. Assim como Dudley, Chris nunca tinha visto um bobsled antes. Aprendeu com os colegas e, em três dias, competiu.
Chris Stokes permaneceu ligado ao esporte. Competiu nos Jogos de Inverno seguintes (1992, 1994 e 1998) e, em 2009, escreveu um livro contando toda a história, Cool Runnings and Beyond – The Story of the Jamaica Bobsleigh. Ele é hoje gerente financeiro e, junto com o irmão, Dudley, dirige a Federação Jamaicana de Bobsled.
A Jamaica participou de todas as edições dos Jogos de Inverno após 1988 (exceto 2006). Em 2014, em Sochi, na Rússia, ficou em último lugar. Certamente, não foi por falta de torcida. O Jamaican Tourism Board lançou até uma campanha, com música tema e tudo: The Bobsled Song (ouça acima). Além da música casar perfeitamente com o movimento do bobsled na pista, as pessoas eram incentivadas a baixá-la e compartilhá-la com os amigos pois, cada vez que fosse ouvida, vibrações positivas seriam enviadas ao time.
Se os atletas não corresponderam na pista, ao menos a ação foi um sucesso e, somada ao sucesso do filme e às participações da Jamaica nos Jogos, só fez aumentar o valor que se dá por lá a esse esporte. No parque Rainforest, que fica em Ocho Rios, há, além da Mystic Mountain – uma montanha russa cujo carrinho simula um bobsled – um pequeno museu que conta toda a saga do time jamaicano. Visita interessante, para relembrar essa história incrível, nascida a partir de uma ideia inusitada.