Na primeira parte do texto sobre o Movimento Rastafári, tratamos da história do movimento e de suas ligações com o reggae. Agora, é hora saber mais sobre outros aspectos, para entender no que acreditam e de que maneira vivem seus adeptos.

Os rastafáris não seguem uma doutrina formal e há pequenas diferenças de pontos de vista entre os diferentes grupos. Ao longo dos anos, foram desenvolvidas algumas listas de princípios que, de tempos em tempos, vão sendo atualizadas. A mais recente delas é uma revisão feita por Michael N. Jagessar, em 1991. A partir das ideias de Joseph Owens, publicadas em 1973, Jagessar chegou ao que seriam as bases do rastafarianismo contemporâneo:
- A humanidade de Deus e a divindade do homem: refere-se à importância de Haile Selassie, considerado uma manifestação humana de Deus para os rastafáris, e também ao conceito de Deus revelar-se aos seus seguidores através da forma humana.
- Deus pode ser encontrado dentro de todo homem: os rastafáris acreditam que Deus se faz conhecido aos homens através da humanidade. De acordo com Jagessar, “deve haver um homem em que Deus se manifesta de forma mais notável e completa, e este homem supremo é Rastafari, Selassie I.”
- Deus na história: é muito importante enxergar os fatos históricos no contexto do julgamento e da obra de Deus.
- Salvação na Terra: para os rastafáris, a salvação é uma ideia mais terrena do que celestial.
- Supremacia da vida: a natureza humana é muito importante para os rastafáris e eles devem preservá-la e protegê-la.
- Respeito pela natureza: refere-se à importância conferida pelos rastafáris aos animais e o meio ambiente, o que se reflete em suas leis e alimentos.
- Poder da palavra: a palavra é muito importante para os rastafáris, pois permite que a presença e o poder de Deus sejam sentidos.
- O mal corporativo: o pecado pode ser pessoal ou corporativo. Instituições que causem opressão são consideradas uma manifestação do mal.
- O Juízo Final está próximo: os rastafáris acreditam que, neste momento, serão largamente reconhecidos.
- Sacerdócio dos rastafáris: eles são os escolhidos por Deus e estão na Terra para promover seu poder e tranquilidade.

O Movimento Rastafári guarda certas conexões com o judaísmo. A primeira delas diz respeito a considerar a raça negra como uma das tribos de Israel, estando então, incluída entre o povo escolhido por Deus. A proibição do corte de cabelo, seguida pelos rastas, aparece no Velho Testamento, aceito também pelos judeus. Os rastafáris associam as nações e instituições opressoras à Babilônia, cidade onde judeus foram escravizados. Finalmente, a Etiópia é considerada a terra prometida e chamada também de Zion (ou Sion/Sião, que equivale a Jerusalém).
Os rastafáris não têm templos. Em geral, encontram-se semanalmente na casa de um seguidor ou num centro comunitário. Esses encontros são denominados sessões de raciocínio. Nelas, há cantos, preces e discussão de assuntos de interesse comunitário. Eventualmente, fumam a ganja (maconha), para atingir estados espirituais elevados. Os rastas, normalmente, não se referem à ganja como maconha, mas sim como erva sagrada, pois encontram na Bíblia as razões para o seu consumo.

A alimentação dos rastafáris deve ser a mais pura possível, sem conservantes, corantes ou flavorizantes. Álcool, café e drogas (exceto ganja) são proibidos. Também não comem carne de porco e evitam o consumo de outras carnes. Muitos são vegetarianos ou comem alguns tipos de peixe. A culinária típica dos rastafáris é denominada ital (ver Ital food: alimento para o corpo e a alma) e, além de saudável, é muito saborosa.
Quando uma criança nasce entre os rastafáris, é abençoada pelos mais velhos da comunidade numa sessão Nyabingi (uma sessão de raciocínio, com muita música), com cantos e preces. Não há cerimônia religiosa para o casamento nem para celebrar a morte. Os rastafáris acreditam em reencarnação e na vida eterna.