Reggae: música de reis

Roberto Carlos na gravação do clipe "Eu Te Amo, Te Amo, Te Amo" | foto: reprodução internet | Vevo

Apesar de contemporâneos, eles nunca se cruzaram. Bob Marley, o rei do reggae, completaria 70 anos em 2015. Roberto Carlos, o eterno rei da música brasileira, está com 74 anos e continua em plena atividade. Prova disso é o lançamento, no último dia 18 de setembro, do clipe da gravação feita em maio, em Abbey Road – sim, o estúdio que ficou famoso com os Beatles. O disco, que será lançado no final do ano, faz parte do projeto Primeira Fila, da Sony Music, no qual cantores latino-americanos gravam em diferentes estúdios.

O álbum "É Proibido Fumar" (1964) | foto: reprodução internet
O álbum “É Proibido Fumar” (1964)

No caso de Roberto Carlos, o álbum será uma comemoração dos 50 anos de sua primeira gravação em espanhol. Esta faceta de sua carreira, que começou em 1965 com Mi Cacharrito, versão de O Calhambeque, tem sido muito promissora e Roberto é o único artista brasileiro a vender mais de 120 milhões de álbuns na América Latina.

Todas as regravações tiveram novos arranjos e nem todas serão cantadas em espanhol. Uma delas, Eu Te Amo, Te Amo, Te Amo, que está na trilha sonora da novela “Regra do Jogo”, da TV Globo, é uma versão reggae deste grande sucesso do finalzinho dos anos 1960 (assista ao clipe no final deste post).

Mas, por mais inusitado que possa parecer, há quem afirme que esta ligação entre Roberto e o reggae já aconteceu antes, mais precisamente em 1964, na canção Rosinha, do álbum “É Proibido Fumar” (ouça a faixa abaixo). De fato, o arranjo possui características muito peculiares ao ritmo jamaicano, como uma linha melódica de baixo e uma marcação rítmica de guitarra, embora não remeta exatamente ao que acostumou-se a ouvir – sobretudo a partir dos anos 70 e com Bob Marley – como reggae. A bateria no estilo “one drop”, por exemplo, é uma ausência importante.

E há pelo menos uma outra ligação (embora indireta) da obra de Roberto Carlos com a música jamaicana. De releitura em releitura, 30 anos após seu lançamento, em 1994, É Proibido Fumar foi regravada pelo Skank como faixa do álbum “Calango” e também está no ótimo disco tributo do mesmo ano, chamado “Rei”. A versão do Skank, que começou sua carreira tocando reggae, tem tudo a ver com a música jamaicana, mas no estilo dancehall. Compare abaixo a base usada pelo Skank com as das canções Oh Carolina (com Shaggy) e Tease Me (com Chaka Demus & Pliers) e note as influências.

Assim como Bob Marley, Roberto Carlos – que não deixa de ser Bob! – já teve suas músicas regravadas por inúmeros artistas. De Caetano Veloso a Titãs, de Maria Bethânia a Chico Science – aliás, com ótima versão de Todos Estão Surdos, também no álbum “Rei” – de Alcione a Marisa Monte. Quando se trata de um rei, não vale gostar ou não gostar, mas é preciso respeitar. Afinal, se não fossem mesmo bons, não seriam reis. E, neste caso em particular, mesmo o mais exigente fã de reggae irá se render à versão, que ficou bem “honesta”. Como diria o rei Bob (o da Jamaica): “Who feels it knows it”. Em bom português: quem sente, entende.

Assista ao clipe “Eu Te Amo, Te Amo, Te Amo”, de Roberto Carlos:

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Silvia Carvalho

Por Silvia Carvalho

Formada em Comunicação Social, atuou na área de marketing por vários anos. Curiosidade inata e paixão por escrever são suas ferramentas para desbravar os segredos da Jamaica e levá-los aos leitores.