Se você não é tão novinho, já deve ter pelo menos ouvido falar de Jackson do Pandeiro e Moreira da Silva. Ambos já faleceram há algum tempo, mas deixaram seus estilos marcados na história da música brasileira. O primeiro compunha e cantava forrós, sambas e seus derivados (xaxado, baião, frevo), era, sobretudo, um grande ritmista. Já Moreira da Silva era um sambista que personificava o estereótipo do malandro carioca. Pensei nisso tudo quando recebi a tarefa de escrever sobre os Jolly Boys, um grupo de mento jamaicano.
Bem, para começar, o mento é um tipo de música popular, tradicional da Jamaica. Nasceu da mistura das tradições musicais dos escravos africanos com elementos da música europeia. Além de ter muito ritmo, o mento utiliza instrumentos acústicos (como violão, banjo e tambor) e tem letras que falam do dia-a-dia de forma bem humorada e leve. Referências sexuais veladas e insinuações também são comuns. E isso me fez lembrar de outra figura do nosso forró: Genival Lacerda (aquele do “ele tá de olho é na butique dela”).
A história dos Jolly Boys é antiga, já que a banda existe desde 1955! Na verdade, houve um grupo antes, os Navy Island Swamp Boys, formado em 1945. Durante um bom tempo, eles tocaram nas festas (verdadeiros bacanais, segundo consta) oferecidas pelo ator Errol Flynn, então proprietário da pequena Navy Island. Quando o grupo se desfez, em 1955, dois de seus integrantes, Moses Deans e “Papa” Brown, formaram os Jolly Boys, que contava ainda com Derrick “Johnny” Henry, Martell Brown e David “Sonny” Martin. A banda ganhou fama e passou a ser considerada a melhor de sua região, Port Antonio.
Nos anos 1960, os Jolly Boys tocavam em festas e hotéis e até ganharam um concurso nacional de bandas de mento, na Jamaica. Nas festas, muitas vezes eram acompanhados por grupos de dança; o líder de um deles, Albert Minott, acabaria, futuramente, tornando-se também um dos Jolly Boys.
Na década seguinte, gravaram seu primeiro single com as canções Take Me Back To Jamaica e Thousand Of Children. Passaram por mudanças em sua formação – já houve pelo menos 18 participantes – e até na divisão do grupo em dois, que coexistiram por algum tempo, tocando em áreas diferentes da ilha e mantendo contato regular entre si.
Entre os anos 1980 e 1990, os Jolly Boys gravaram vários álbuns e alcançaram reconhecimento internacional como nenhum outro grupo de mento. Fizeram turnês pelo mundo, dos EUA ao Japão. A partir de 1998, passaram a se apresentar regularmente no Geejam Studios, uma espécie de estúdio de gravação residencial, por onde passaram artistas como No Doubt, Amy Winehouse e the Gorillaz.
Em 2008, o Geejam abriu também um hotel, em Port Antonio, que passou a ser a casa da banda. Jon Baker, coproprietário do local, resolveu, então, produzir um disco que documentasse a importância da banda para as futuras gerações. O resultado foi o brilhante álbum “Great Expectations”, lançado em 2010.
Nada tradicionalistas e sempre dispostos em transformar em mento uma boa música, os Jolly Boys reuniram doze sucessos de feras como os Rolling Stones, The Doors, David Bowie e Amy Winehouse. É incrível como as versões são alegres e conseguem unir a vibração do mento a sucessos já tão consagrados.
Neste ano, os Jolly Boys perderam um de seus membros mais antigos, Joseph “Powda” Bennet, falecido em agosto, aos 76 anos. Ele era um dos remanescentes da formação”original”, ao lado de Derrick ‘Johnny’ Henry, Albert Minott, Allan Swymmer e Egbert Watson. Há ainda o sangue novo de Donald Waugh, Lenford “Brutus” Richards e Dale Virgo. O grupo continua firme, na ativa, em busca de novos desafios que possam ser enfrentados com alegria e irreverência. Como, aliás, bem faziam os saudosos Jackson do Pandeiro e Moreira da Silva.