Qual é o lugar da mulher na música jamaicana?

Lady Saw, cantora jamaicana conhecida como a "rainha do dancehall" | foto: reprodução internet

A Jamaica foi colonizada primeiramente por espanhóis, que trouxeram os primeiros escravos africanos e, posteriormente por ingleses. Às culturas latinas e africanas, que têm em comum uma alta dose de machismo, somou-se, no caso da Jamaica, a questão dos princípios seguidos pelos rastafáris, os quais acabam por colocar a mulher em posição secundária, de submissão.

Foto de família jamaicana no início do século XX |  foto: reprodução internet
Foto de família jamaicana no início do século XX

Os reflexos disso na sociedade jamaicana são muitos e bastante cruéis, em alguns casos. As mulheres resistem ao planejamento familiar, especialmente por conhecerem a posição contrária de seus pares. Elas costumam ter muitos filhos, de diferentes parceiros e a razão é, sobretudo, econômica: se um pai não reconhecer suas responsabilidades, quem sabe outro o faça.

Mulheres criando filhos sem a ajuda ou presença do pai são uma instituição na Jamaica. Estima-se que oito em cada dez crianças nasçam fora de um casamento. Esse desajuste familiar tem consequências prejudiciais, tanto para as mulheres quanto para as crianças.

Atualmente, as mulheres representam cerca de 46% da força de trabalho na ilha, a maior taxa per capita do mundo. Submetem-se a todo tipo de trabalho, especialmente àqueles rejeitados pelos homens, em confecções ou como empregadas domésticas. Desempenham funções cujos salários são baixos e recebem menos que homens exercendo a mesma função. A participação das mulheres jamaicanas em posições de alta gerência não chega nem a 10% do total.

"Dancehall party": ritmo envolvente e performances sensuais  |  foto: reprodução internet
“Dancehall party”: ritmo envolvente e performances sensuais

As manifestações culturais de um povo refletem suas características, seu modo de pensar, seus problemas. Assim é na música. Enquanto as letras dos roots reggae eram mais filosóficas e às vezes até messiânicas, o dancehall e o ragga (dancehall digital) são mais explícitos na crítica social, ou quando tratam de violência ou sexo. Nesse sentido, aproximam-se do funk carioca, inclusive nas performances e nas danças extremamente sexualizadas.

De um lado, cantores como Shabba Ranks – que fez grande sucesso nos anos 1990 sendo, inclusive, considerado símbolo sexual –  com letras onde o sexo é quase uma obsessão e a mulher, um mero objeto. Atualmente, na mesma linha, Elephant Man canta pérolas como Whine Up.

Como resposta, há mulheres que resolveram combater o machismo através da música, como Lady Saw. Em Not In Love (ouça a faixa acima) e Rich Girl, por exemplo, ela coloca a mulher no poder, dona de seus sentimentos ou de seu dinheiro. Já Tanya Stephens vai da reclamação pelo tratamento recebido, como em Lying Lips e It’s A Pitty (ouça abaixo), até a dominação através do sexo, como em UnapologeticPon Di Side.

Há quem defenda que a posição da mulheres na Jamaica não é tão crítica, pois segundo esse raciocínio, elas conseguem manipular os homens através da sexualidade, fazendo-os sentir donos da situação. Sinceramente, prefiro acreditar numa outra linha, que demonstra que a escolarização está crescendo junto às mulheres jamaicanas. Como as brasileiras, elas são dedicadas e acabam tendo mais anos de estudo, e isso, a médio prazo, as levará a uma independência social e financeira que lhes permitirá tratar de seus relacionamentos de igual para igual.

Assista o clipe “Unapologetic”, de Tanya Stephens:

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Silvia Carvalho

Por Silvia Carvalho

Formada em Comunicação Social, atuou na área de marketing por vários anos. Curiosidade inata e paixão por escrever são suas ferramentas para desbravar os segredos da Jamaica e levá-los aos leitores.